terça-feira, 22 de outubro de 2013

A voz que vem do silêncio...

Dona Zilda trabalhou aqui em casa parte da minha infância. Como qualquer criança matreira, eu arquitetava planos pra surpreendê-la com um susto inofensivo e darmos umas boas risadas. Ficava ali escondido, esperando o momento da emboscada, mas dava pra trás quando, por vezes, percebia que Dona Zilda conversava com mais alguém, alguém que visivelmente nunca estava ali. Um dia ultrapassei a barreira das brincadeiras puxando um assunto que ainda se salientava tímido entre meus interesses e perguntei com quem ela conversava. Dona Zilda, a quem muitos chamavam "macumbeira", como vim a descobrir em histórias futuras, me falou de seus guias invisíveis. "Mas a senhora escuta eles? Como?". Ela ria. Dona Zilda, que só sabia escrever o próprio nome, foi a primeira a me ensinar sobre uma sabedoria que tinha, literalmente, de ouvido, a de que cada um de nós temos um espírito que nos acompanha e auxilia, e que mais do que um aparente exercício de eloquência e argumentação com os próprios pensamentos, ao lhe dirigir a palavra em horas perdidas do dia, num tempo fora de tempo, ele respondia com a mesma clareza com que se dirigisse a ele. Então, aos poucos fui voluntariamente me calando e me ensurdecendo para os ruídos do mundo, pra que de uma maneira especial eu pudesse falar e ouvir os ecos que de certa forma me alcançavam, esmagados ainda, nas entrelinhas dos meus próprios pensamentos. E descobri: tão sábia é a voz que vem do silêncio!



terça-feira, 3 de setembro de 2013

An Qulüwena


Pois que de nada me diferencio e que de tudo tomo parte, que eu reflita ao firmamento, em apropriada imensidão, a calmaria de celestino e tartáreo lago, à sombra das bétulas e juncos, amornado pelo calor sutil da primavera e embalado pelo vento. Tal qual esplendorosa coroa d'Aquele cujos chifres e galhos se confundem com os raios do Sol, tão clara é a luz do Céu que me encima, aos olhos do tão mais formoso Luminar do Palácio do Dia, que de onde muito acima vim, do eterno emanar do prístino Ser, grão e semente do Sol dos Sóis, Lume dos Lumes, e que sob quem aqui fui, então, encaminhado. Tal qual plúmbeo manto d'Aquela que com sua Lanterna e Barca da Lua guia as almas em seu reinado, o Palácio da Noite, tão turva é a escuridão do Abismo, onde mergulho e contemplo, flutuante, entre as cortinas penetrantes de luz que me orientam, e que para onde muito abaixo devo ir, e que para onde fui, então, desafiado.Pois que me encontro na vastidão de mim mesmo, lago cônscio onde sou e estou, rendido pela terra escura e verdejante, que me represa, que me contém, que me acolhe, que eu alcance na nascente de minha própria substância, em solo musgoso, a porta dos veios aquosos que me unem ao coração da Terra, ao coração do Homem! Que eu possa fluir em ti, através de ti e por ti, Mãe Negra, em mística linguagem, recebendo-me em espírito e essência no teu ventre novamente, aqui onde solidão e silêncio se prolongam como tempo e espaço, no eterno gerar do adamantino Ser, faísca e fagulha do Sol dos Sóis, Lume dos Lumes.


Otsiphem

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Az'azael-Lucifer


Anjo-Bode das Encruzilhadas do Céu e da Terra, Az'azael-Lucifer
(Arte de Anderson Santos aka Mephisto Ben Azhi)

Imagem inspirada pela prática diária de um determinado ritual... 
Entendedores entenderão. :)

domingo, 26 de maio de 2013

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O Mistério Esotérico de Afrodite no Processo Interno



(O Nascimento de Vênus, 1486, Botticelli)

Afrodite, deusa do amor e beleza, emergiu da espuma do mar em Pafos, na ilha de Chipre em 3200 AEC. À ela foi dado muitos nomes, um dos quais era Anadiomeni, que em grego significa "aquela que emerge".

Na maioria das vezes ela era retratada como uma virgem inocente com um corpo etéro incorruptível, um corpo nu preenchido com uma radiância divina. Como uma deusa cativante, irresistível e invencível, Afrodite exerce seus grandes poderes sobre os seres humanos bem como nos animais e plantas, mantendo e sustendo a vida. Na maioria das vezes, ela é retratada usando roupas lindas e sedutoras tecidas especialmente para ela pelas Graças. Às vezes, ela é representada como uma mulher sedutora porque ela excita as emoções, pensamentos e instintos humanos.

Antigos hinos gregos dedicados à Afrodite sempre veneram sua beleza e esplendor. Ela é também mencionada como uma deusa da luz, a "brilhante estrela dos Céus", Ourania (filha dos Céus) e esposa de Hefesto/Vulcano, o deus do fogo celestial, o filho feio e coxo de Zeus e Hera, que representa outro símbolo do "processo interno" no qual as qualidades do fogo, tanto celestial quanto terrestre, trabalham dentro da natureza divina e humana. Hefesto é a personificação do aspecto oscilante e cambiante das chamas que se transformam e se transmutam no "calor" da vida.

Mais conhecida como Vênus/Afrodite, sua mais popular representação é como a deusa do amor e fertilidade, beleza e regeneração, que acalma o mar e pacifica a natureza, significando que suas qualidades equilibram e harmonizam as emoções e instintos humanos. Os simbolos associados à Afrodite incluem o cisne, o golfinho, a rosa e a pomba. Por isso, ela é chamada de Galinaie e Efrlia, que significa "aquela que traz a calma" e a "protetora dos barcos e jornadas seguras". Ela é também a deusa da primavera e, a cada primavera, se reune com seu amante cíprio, Adônis, que morre ao final de cada verão somente para ressuscitar a cada primavera e despertar a natureza de seu sono invernal.

Como um arquétipo de beleza e amor, Afrodite sempre usou uma linda coroa (eustéfanos em grego). Através de seus atributos, ela representa o aspecto feminino de Eros, a parte de amor e beleza que mergulhou na matéria e inconsciência, esperando sua emergência do mar inconsciente dos instintos. Sua materialização sinaliza o aparecimento de sua verdadeira incorruptível essência de amor puro.


(Venus Verticordia, 1868, Dante Gabriel Rossetti)


A Tranformação de Afrodite

Afrodite é a pura essência da beleza e amor que redime a matéria escura da inconsciência e ignorância, pois tal como seu filho, Eros, ou o grande Phanes/Eros, ela representa o poder divino dentro de sua natureza virgem celestial que atrai e guia a consciência humana de dentro de volta à sua fonte. Ela representa a natureza transcendente e divina dentro dos humanos ao que isso emerge de sua insconsciência. Eros, por outro lado, representa a força magnética que ativa as qualidades da alma do Divino amor e beleza que se estende e se manifesta na natureza humana. Eros, a pura essência do amor e beleza, descende dos Céus, enquanto Afrodite, nossa divina natureza interior, ascende. Ambos são parte do mesmo processo interno e juntos eles guiam a consciência humana de volta a sua fonte. Desta forma, alguns mitos representam Eros como filho de Afrodite.

Em seus mitos, Afrodite governa o coração de todos os humanos e, de acordo com sua vontade, ela tanto salva as pessoas de seus processos e ordálias, quanto imprudentemente as impulsiona em aventuras de amor e affairs que geralmente terminam desastrosamente, tais como aquelas de Helena de Troia, Medeia, Fedra e Pasífae. As dificuldades, ordálias e processos são o que todo buscador sincero e sério deve passar. Em verdade, eles são os processos de purificação e iniciação dos elementos (fogo, água, ar e terra) que cada buscador deve experimentar de modo a superar sua natureza animal, como retratado na sexta carta dos Arcanos Maiores do Tarot. 


Vênus, Aquela que mostra o caminho

Na mitologia sumeriana, Afrodite/Vênus é chamada "Ela que mostra o caminho para as estrelas". Ela era a filha da Lua e irmã do Sol e, desde que ela apareceu no amanhecer e no anoitecer (como uma estrela), foi muito natural que ela fosse considerada como um tipo de elo entre as deidades da luz e da escuridão. Assim, embora o Sol seja seu irmão, ela tinha a deusa do submundo como uma irmã. Os sumérios a conheciam como "A Valente" e "A Senhora das Batalhas".

Os órficos chamavam Afrodite de Pontogenis, significando "nascida do mar". Ela não era vista como uma deusa que governava sobre o amor carnal mas muito mais como uma deusa cosmogônica que deu o estímulo irresistível ao Éter/Zeus para criar formas fora da substância da Terra. Em uma outra tradição, Afrodite nasceu do ovo de uma pomba que caiu dos Céus.

Intuição nos diz que Afrodite é a senhora das formas-pensamento, que govena os corpos etérico e astral do homem. Por isso, seu processo interno não pode ser separado do de Eros pois ambos, através de seus poderes e essências individuais, reformam os corpos astral e etérico do buscador de acordo com o modelo arquetipal perfeito.

Como parte do processo interno, nós sabemos que Marte, o deus da guerra, foi cativado pela beleza e charme de Afrodite. Na psicologia esotérica, ele representa pensamentos e emoções incontroláveis, e a força e poder cegos dentro da natureza humana. Por isso, em um certo nível de trabalho interno, nós interpretamos sua descrição de Marte como representativo dos instintos incontroláveis da psique. Ele deve se deixar ser atraído pelo charme de Afrodite e ser sobrecarregado e domado por seu apelo magnético e coativo.

De acordo com Platão, o amor é atribuido à Afrodite, a profecia a Apolo, os mistérios a Dionísio e a poesia às Musas. Platão nos diz que o mais importante desses dons divinos é o Amor Divino por duas razões. Em primeiro lugar, sem o impulso do amor puro, os outros dons da profecia, mistérios e poesia permaneceriam inférteis, inativos e estéreis. Eles precisam do impulso palpitante e vibrante do Amor Divino pra assim serem constantemente nutridos e sustentados. Em segundo lugar, porque somente a essência do amor pode levar o amante ao amado, e a medida que o amor é dirigido ao sublime, ele une a mente de um buscador mais intimamente. 


Hino Órfico à Afrodite



Filha de Oceano
De beleza incrível, nós Te honramos.
Tu governas a terra profunda,
O Céu circundante,
Os mares tempestuosos
E tudo o que há neles.
Mãe do doce matrimônio,
Tu que unes o mundo
Com risos e harmonia;
Mesmo as Moiras Te obedecem.
Todos os olhos procuram a Ti.
Dê-nos a beleza e o amor.
Encantada com segredos
e festas luxuosas
Tu és concórdia
e persuasão.
Tu és a linda Necessidade
Ainda no frenesi do tubarão,
Delicada como a espuma do mar de Chipre,
Perfumada como os óleos sírios,
Brilhante como as carruagens douradas
Nas planícies egípcias
Pelo banco de areia
do Nilo azul-turquesa,
Um coro das Ninfas mais belas
cantam um hino à tua beleza.
Com reverência nós pedimos
pelo dom da graça.

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Traduzido e publicado aqui com a permissão prévia do owner do site.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

EHJEH ASCHER EHJEH

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Eu não sou o que Eu não sou.
Eu sou o que Eu não sou.
Eu sou o que Eu sou
Eu não sou o que Eu sou.
Eu não sou o que Eu não sou.
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E Ele disse:

"Por benção e maldição, chegará o momento daquele que perceberá as consequências de suas escolhas, e se verá no Coração da Encruzilhada onde o Caminho da Verdade e o Caminho da Falsidade se cruzam.
 
Ele perceberá que aquele caminho que oferece o que ele mais deseja se manterá fechado pra que se realize aquilo que ele mais precisa. 
Ele perceberá que aquele caminho que oferece o que ele menos precisa se manterá aberto pra que se realize o que ele mais deseja.
 
Se for de caráter bom, ele não abraçará a Falsidade só pra compensar o caminho que lhe foi negado até então, em prol de sua própria maturação, e nas cinzas e no pó da rejeição e submissão ele encontrará alimento que nutra a sua redenção.
 
Se for de caráter ruim, ele abraçará a Falsidade como última possibilidade, vivendo das migalhas da sua própria perdição, em disputa com seus semelhantes, e se embriagará com seu próprio veneno, projetando o glamour de ilusões sobre si mesmo, em um auto-encantamento de morte, e também sobre os outros, através de seus truques, o tornado então exímio pelotiqueiro." 


("Procura o Fim no Princípio.")

Pelo Grande Dragão,
Devorador e Gerador de Si Próprio,
Que mascara o meu Eu e se reflete no Outro,
Que mascara o Outro e se reflete no meu Eu! 
Que Tu, Falso Buscador,
Sejas imolado e tomado em holocausto
Nos altares manchados de sangue,
Na ara da Antiga Adoração,
Que por três vezes abençoa,
Três vezes amaldiçoa
E três vezes torna grande e sábio!

HEKAS
HEKAS
ESTE
BEBELOI