terça-feira, 3 de setembro de 2013

An Qulüwena


Pois que de nada me diferencio e que de tudo tomo parte, que eu reflita ao firmamento, em apropriada imensidão, a calmaria de celestino e tartáreo lago, à sombra das bétulas e juncos, amornado pelo calor sutil da primavera e embalado pelo vento. Tal qual esplendorosa coroa d'Aquele cujos chifres e galhos se confundem com os raios do Sol, tão clara é a luz do Céu que me encima, aos olhos do tão mais formoso Luminar do Palácio do Dia, que de onde muito acima vim, do eterno emanar do prístino Ser, grão e semente do Sol dos Sóis, Lume dos Lumes, e que sob quem aqui fui, então, encaminhado. Tal qual plúmbeo manto d'Aquela que com sua Lanterna e Barca da Lua guia as almas em seu reinado, o Palácio da Noite, tão turva é a escuridão do Abismo, onde mergulho e contemplo, flutuante, entre as cortinas penetrantes de luz que me orientam, e que para onde muito abaixo devo ir, e que para onde fui, então, desafiado.Pois que me encontro na vastidão de mim mesmo, lago cônscio onde sou e estou, rendido pela terra escura e verdejante, que me represa, que me contém, que me acolhe, que eu alcance na nascente de minha própria substância, em solo musgoso, a porta dos veios aquosos que me unem ao coração da Terra, ao coração do Homem! Que eu possa fluir em ti, através de ti e por ti, Mãe Negra, em mística linguagem, recebendo-me em espírito e essência no teu ventre novamente, aqui onde solidão e silêncio se prolongam como tempo e espaço, no eterno gerar do adamantino Ser, faísca e fagulha do Sol dos Sóis, Lume dos Lumes.


Otsiphem