domingo, 19 de dezembro de 2010

Sedução Diabólica

O Poder seduz, claro. O que faríamos se descobríssemos que temos poder pra desencadear aquilo que quisermos? Não falo de poder político ou monetário, mas um poder "sobrenatural", algo próximo do piscar de olhos da Jennie ou do sacudir de nariz da Samantha. Quantas coisas poderiam ser feitas sustentadas por esse tipo de poder? Vamos trazer a fantasia pra realidade nos moldes que lhe são impostos fora da televisão, na realidade.

Sempre houveram umas pessoas consideradas estranhas, ou mesmo perigosas, que parecem ter descoberto esse poder dentro de si e ao seu redor. Notaram ou foram ensinadas que certas substâncias naturais, quando alinhadas ao pensamento dos seus manipuladores, desencadeavam certos acontecimentos. Falo de bruxas, feiticeiros. Pessoas normais, mas não comuns, sempre presentes nas sociedades desde o princípio dos tempos, relegadas ao nível marginal porque detinham o controle desse poder e que, portanto, deveriam ser evitadas, ou mesmo mortas.

Isso tudo parecia impossível, meras superstições e lendas, até certo tempo. Atualmente vemos muitos estudos sendo feitos e livros lançados a respeito do poder escondido da nossa mente. Mentalismo, Psicocinese, Programação Neuro-Linguística, terapias naturais como Fitoterapia e Acupuntura, cartas de Tarô e Astrologia associados à Psicologia, dentre outros. A dita ciência oficial volta seus olhos, que de tão acurados se tornam por vezes torpes, pra esses assuntos e a Magia e Religião começam a ser desmistificadas paulatinamente. As velhas ciências, apesar de sempre presentes na vida das pessoas, começam a ser possíveis de serem aceitáveis.

Bom, sempre acreditei que algum dia isso pudesse acontecer. E tão melhor que fosse assim. Mas como será quando, hipoteticamente falando, tudo isso for "desvendado" e as pessoas começarem a usar isso abertamente com o apoio da ciência? Humanos tecnocrátas superpoderosos que descobriram o que se passava nos 96% desconhecidos dos seus cérebros, explorando isso cada vez mais, ou usando o auxílio de máquinas que induzam a manifestação controlada desse potencial. Uh, daria um ótimo filme!

O Poder seduz. Mas saindo das minhas abstrações e voltando ao mundo real, onde a Magia permanece com seus mistérios de índole duvidosa, frequentemente me pego assolado por dúvidas de cunho moral e ético, enquanto peregrino desse caminho. Que responsabilidades devo assumir porquanto usuário desse poder?

Sabe-se que existem bruxas brancas e bruxas negras. Às vezes, umas intermediárias. Essa dualidade é escravizante se notarmos a importância do poder destrutivo assumido por bruxas negras. Mas e para essas bruxas: o que se ganha com isso? Não quero julgar as ações delas, até porque, sinceramente, tenho um dedo podre muito adequado pra esse tipo de ação. Mas quero entender essa balança universal.

É contraditório que eu defenda a harmonia pessoal, como a chave pra uma vida equilibrada, onde todos que vivem em sociedade possam gozar de plena liberdade e felicidade, mas não julgue as ações de maleficia executadas por tais pessoas, motivadas por sentimentos desordenados, longe do ideal de harmonia pessoal. Claro, só envulto uma pessoa se nutro ódio por ela. E por que manter tais sentimentos e buscar reações de contra-ataque se, mais uma vez, defendo a tal harmonia pessoal? Assim, eu deveria me manipular tais venenos psíquicos ao invés de ingerí-los. Seria o mais sensato.

Valores arraigados do bom convívio social? É uma questão ética?

Bom, não transcendi essa questão de bem e mal. Compreendo que todas as pessoas têm seu papel no Universo, para o chamado "bem" ou para o chamado "mal". Minha dúvida está em como harmonizar os aspectos micro e macrocósmicos dessas ações. Posso estar alinhado comigo mesmo, com minhas crenças e valores, e ainda assim mirar o canhão na direção de alguém que pisou no meu calo? Posso me considerar um agente das forças caóticas destrutivas e prosperar, paradoxalmente, com isso? Digo paradoxalmente porque a gente só dá o que a gente tem, e a gente só ganha o que a gente dá. Ou será essa a crença chave que me impede de ver a grandiosidade desse todo?

Dúvidas sobre o poder. Ele realmente seduz.

domingo, 5 de dezembro de 2010

I

Meu nome é Anderson, mas podem me chamar de Mephisto, é o nome que eu adotei.

Por muito tempo eu tenho tido curiosidade sobre o mundo. Um curiosidade que ultrapassa a concepção comum de mundo. Eu fui uma criança normal, brincava com meus amigos da escola, os amigos da rua, jogava vôlei e corríamos quando um carro dobrava a esquina pra atrapalhar a nossa festa. Tive minhas paixões infantis pelas garotas mais inteligentes e bonitas do meu bairro. Não fiquei com nenhuma. Minha ingenuidade e timidez me seguravam pra que eu as amasse em segredo. E amassei. Me amassei. Minha família sempre foi muito unida. Felizmente nunca tive problemas com isso. Meus pais me amavam, eu os amava, meu único irmão também, meus avós, primos e tias. Por isso eu não tinha medo, me sentia seguro com eles. Só tinha medo de contar estrelas porque eu sabia que nasceriam verrugas em mim. Um dia eu contei e nasceu uma verruga no meu dedo médio da mão esquerda. Disso, pelo menos, eu não duvidaria mais. Até que entrei na adolescência.

Os medos e dúvidas vieram com tudo, e nasceram em mim não verrugas estelares, mas perguntas. Então comecei a me questionar o porquê desse todo que me cercava. Eu sentia como se tudo falasse ao meu redor, mas eu não soubesse escutar. Como alguém diante de uma pessoa de outro país, falando uma lingua totalmente estranha. Os medos e ansiedades tomavam formas. Formas assustadoras que me diminuiam muito na minha ignorância a respeito delas. Não falo de visões espectrais ou qualquer coisa do tipo. Falo de padrões mentais, coincidências, pensamentos sincronizados, coisas assim... Não sabia o que fazer, mas não podia continuar como um observador passivo.

Minha tia contava estrelas, mas ela não tinha verrugas. Ela era daquelas pessoas que traduziam a posição dos astros e que identificava prováveis rotas a serem seguidas ou desviadas. Caminhos desenhados no céu. Em outras palavras, ela era astróloga. "Era" porque depois ela... não sei, deve ter criado alguma verruga também.

Um dia a verruga do meu dedo sumiu, da mesma forma que apareceu, do nada. E eu uni a vontade de não me entregar ao medo com a minha curiosidade que descobri ser geminiana. E passei a contar as estrelas de novo. E sem mais verrugas.

Não me considero astrólogo, apesar de imitá-los em muitas coisas.

Voltando a concepção de mundo...

O que meus olhos viam pra mim não bastava. Afinal, o que eu penso que sou pra acreditar que meus olhos poderiam ver tudo o que esse mundo tem pra oferecer? Não. Existia alguma coisa a mais. Coisas que fariam meus olhos se fechar pra enxergar tudo o que se escondia por trás do que o mundo, da forma que lhe é própria, revelava. Então eu vesti a roupa do explorador, mesmo ainda sendo apenas uma jovem criança curiosa.

Então me deparei com uma forma excitantemente interessante de se explorar o mundo invisível. Muito mais tarde eu viria a descobrir a metafísica, como lecionada nas universidades, mas o que eu encontrei de imediato foi uma coisa mais... poética, lúdica.

E é disso que eu vou tratar aqui.

Mesmo depois de alguns tropeços e atalhos falhos que peguei durante o início dessa exploração, quero vir a esse espaço e relatar pensamentos e avanços que venha a alcançar, textos que eu chegue a traduzir, enfim, tudo aquilo que, de uma forma ou de outra, me serviu de apoio, de cajado na jornada.

Antes de tudo, acho que é uma boa eu explicar porque escolhi o nome Mephisto pra representar esse meu lado. Bom, "Mephisto" pra quem não sabe é uma forma reduzida do nome grego Mefistófeles, que significa, dentre outras coisas, ''Aquele que gosta da não-luz'' ou ''Aquele que não gosta da luz''. Apenas "Mephisto" significa "Não-Luz" (em grego, Me-Phós) ou "Luz Negativa", fora de qualquer visão maniqueísta. XON. Adotei esse nome a partir da concepção de que a Luz é a energia materializada, ou seja, é substância, é a condensação da escuridão, esta que é essência. E é justamente essa essência que eu busco, a arché de todas as coisas, antes dessas mesmas coisas tomarem formas. A Luz dá formas, restringe, impõe limites no tempo e espaço. Na Escuridão tudo vira a mesma coisa, tudo se dissipa, se dissolve, e dela tudo surgiu.

Não estranhem as velas e incensos fumacentos que eu acender por aqui, não se distraiam em meio a tantos talismãs, atentem ao eco de feitiços lançados e boa viagem, pois mais fascinante só além no reino dos sonhos, onde muito mais é possível.

Na paz de Shalim e serenidade de Shahar, que os prados do Jardim do Averno exalem o aroma ímpar das profundezas de cada um de nós!

Mephisto